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quarta-feira, janeiro 27, 2010

Por todos aqueles que não puderam falar...

Faz hoje sessenta e cinco anos da libertação, pelos soviéticos, do campo de concentração e extermínio de Auschwitz... O campo de concentração de Auschwitz, situado na Silésia, na Alta Polónia, a 40 Km de Cracóvia, era composto por diversos campos: um campo de concentração, um campo de trabalhos forçados e um campo de extermínio. É hoje o símbolo de um dos maiores crimes contra a humanidade cometidos desde sempre. É o símbolo dos outros campos com igual função, mas não tão falados: Sobibor, Treblinka, Majdanek, Chelmno e Belzec. Todos eles campos de concentração e extermínio utilizados pelos nazis, para matar judeus, ciganos, presos políticos, deficientes, ciganos e todos aqueles que de alguma forma não correspondiam ao ideal de Homem preconizado pelo nazismo.
Primo Levi observou que, "onde se faz violência ao homem, faz-se também violência à língua e à cultura, mencionando o silêncio imposto pelo próprio isolamento das vítimas, o desvio perverso da linguagem dos campos e os seus efeitos de terror, bem como a perpétua mentira, pronunciada pelos nazis, através de uma linguagem cifrada: por exemplo, Sonderbehandlung (tratamento especial) significava, na realidade, a morte pelo gás."
Hannah Arendt lembrou que os nazis estavam completamente convencidos que uma das maiores possibilidades de sucesso do seu empreendimento criminoso residia no facto de ninguém no exterior poder acreditar no que realmente se passava em Auschwitz. Em 1942, um SS expressou-se assim com um prisioneiro:
«haverá talvez suspeitas, discussões, pesquisas feitas pelos historiadores, mas não haverá certezas, porque nós destruiremos as provas ao destruir-vos. Mas mesmo que subsistam algumas provas e que alguém de entre vós pudesse sobreviver, as pessoas dirão que os factos que vocês descreverão são demasiado monstruosos para neles se acreditar».
E a verdade é que muitos sobreviventes contaram que, ao regressarem ao mundo, depois de ultrapassarem o seu próprio silêncio acerca do que tinham vivido, sentiram que os outros não queriam acreditar neles ou preferiam mesmo não tomar conhecimento do horror dos campos."
Auschwitz nunca poderá ser totalmente explicado, porque a morte e o extermínio de milhões de pessoas (homens, mulheres, crianças) nunca poderá ser explicado e esperemos que nunca possa ser compreendido.

Deve, isso sim, ser lembrado, para não nos esquecermos nunca do que o Homem é capaz!
Bibliografia
- Levi, Primo, Se Isto É um Homem, trad. Simonetta Cabrita Neto, Lisboa Público, colecção Mil Folhas, 2002
- Arendt, Hannah, Sur l´antisémitisme, Paris, Seuil, 1973, 1.ª, 1951

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